O texto publicado pelo Sérgio Dávila, na coluna Ilustríssima da Folha, no último dia 20,
sobre o Papa Leão XIV é um exemplo didático da arte de enrolar o leitor em metros e
metros de fita colorida para, no fim, entregar uma caixinha vazia. O jornalista nos serve
uma selva de descrições — a cor da pena dos guardas suíços, o cardápio do jantar, os
drones que desenhavam no céu imagens da Capela Sistina — como se estivéssemos
diante de um guia turístico de Roma ou de um folheto publicitário da Disney+. Mas, por
trás dessa massa de informação inútil, existe apenas uma tese: colocar Leão XIV contra
Francisco, em claro desfavor do Papa reinante, e manter viva a narrativa segundo a qual
Francisco continua sendo a “presença incontornável” da Igreja.

Não é preciso ser um gênio da hermenêutica para perceber a manipulação. Toda vez que
a imprensa fala em “onipresença” de um personagem morto, significa que o vivo não
agrada. A tentativa é sempre a mesma: criar a ilusão de que o novo papa é um apêndice
do anterior, um funcionário interino que cuida da casa até o retorno do verdadeiro dono.
É ridículo. Francisco morreu, o conclave elegeu Leão XIV, e a Igreja Católica tem um
Papa — ponto. O resto é nostalgia interessada, instrumentalizada por jornalistas que
desejam ver na Igreja uma agência de propaganda de causas progressistas.
A verdade, que qualquer pessoa com dois olhos na cara e alguma familiaridade com a
Igreja real pode atestar, é que a transição foi das mais serenas da história. Os fiéis — e
aqui me refiro aos fiéis de verdade, não aos consumidores de slogans vazios —
receberam Leão XIV com entusiasmo, carinho e uma devoção que cresce a cada dia.
Não há “crise de identidade”, nem “saudades insuperáveis” do pontificado anterior. O
que há é uma mídia ressentida porque Leão XIV não se presta a servir de garoto-
propaganda para o politicamente correto global.
E o que o jornalista chama de “timidez” e “falta de presença cênica” nada mais é do que
a humildade cristã. O Papa não é ator de teatro. Não precisa improvisar piadinhas nem
inventar gestos teatrais de lacração para aparecer no feed da semana. Ele fala baixo
porque não precisa gritar. Lê discursos preparados porque respeita a liturgia das
palavras e não quer transformar cada audiência num stand-up comedy. Sua discrição é a
marca de quem se sabe servo da Igreja, não astro de um espetáculo. A diferença entre
um pastor e um popstar é justamente essa: o primeiro cuida de almas, o segundo vende
ingressos.
Mas a parte mais reveladora do artigo é o medo que transparece nas entrelinhas. Basta o
Papa reafirmar, com clareza, a doutrina da Igreja sobre o matrimônio e o sacerdócio
para que a máquina de imprensa entre em modo de revanche. Já sabemos como
funciona: quando o Papa diz algo que agrada ao liberalismo, ele é “profético”; quando
reafirma o Evangelho contra o espírito do tempo, ele é “tímido”, “desconectado” ou
“ofuscado pelo antecessor”. O jogo é velho. O que está em disputa não é a imagem
pública do Papa, mas a própria fidelidade da Igreja à sua missão.
É nesse ponto que os fiéis precisam abrir os olhos: a mídia não quer um Papa, quer um
mascote. Quer um líder que sorria para as câmeras, fale uma linguagem de slogans
vazios e repita as palavras mágicas do progressismo mundial — inclusão, diversidade,
sustentabilidade —, sem nunca lembrar que existe pecado, cruz e eternidade. Leão XIV não aceita esse papel. Ele não está no trono de Pedro para ser lacaio do espírito do
tempo, mas servo do Evangelho. E é justamente por isso que tentam diminuir sua figura.
Portanto, preparemo-nos. A resistência da mídia liberal já começou. Ela não suportará
um Papa que mantenha a Igreja na sua centralidade do Evangelho e não na agenda da
ONU. Mas, como sempre, a Verdade não precisa de marketing para se impor. O que os
jornalistas chamam de “timidez” é, na realidade, a coragem silenciosa de quem prefere
perder aplausos para não perder a alma.
Em resumo: a reportagem da Folha é mais uma tentativa de manter vivo um mito
jornalístico e obscurecer a realidade atual. A realidade é simples: os católicos de
verdade estão apaixonados pelo Papa Leão XIV, porque veem nele um homem de Deus,
humilde e firme, que não negocia a Verdade. E isso, meus caros, nenhum espetáculo de
drones consegue apagar.
Autor : Charles Demidov