Estamos testemunhando um momento histórico que certamente será datado, no futuro, como um marco na evolução da sociedade. A revolução tecnológica liderada, principalmente, pela Inteligência Artificial e pela Biotecnologia – em especial, a genômica – abre perspectivas que levam a uma ruptura dos paradigmas de praticamente todas as áreas do conhecimento e da vivência humana.
São muitos os especialistas de diversos campos que apontam nesta direção, cada qual destacando aspectos mais ou menos otimistas (ou pessimistas) sobre os potenciais impactos dessas tecnologias em nossas vidas. Cotidianamente já experimentamos e avaliamos os efeitos delas, em nossos celulares, no trânsito, nas consultas, na gestão de negócios etc…
Um desses “futuristas”, o britânico, pesquisador de IA e co-fundador da Deep Mind, Mustafa Suleyman, fez uma pintura leitura bastante esclarecedora deste cenário em livro publicado recentemente (The Coming Wave AI, power and the twenty-first century’s greatest dilemma 1), mostrando o poder transformador da IA generativa nos negócios e em toda a sociedade, mas também evidenciou ponderações interessantes sobre as implicações possivelmente sensíveis que tais tecnologias apresentam.
Essas ponderações estão no cerne dos movimentos que discutem e propõem novas regulações globalmente, e Suleyman faz, entre outras reflexões, algumas sugestões para a contenção das possíveis ameaças, como o desenvolvimento de patógenos letais ou conflitos cibernéticos. Por outro lado, não concebe a interrupção do progresso das pesquisas, posto que entende ser exatamente por meio desses avanços – com contingente controlado de danos – que iremos conquistar melhores condições de vida.
Talvez nós, que trabalhamos em prol da saúde, estejamos entre os mais impactados por essa “nova onda”, como define o autor, uma vez que somos interlocutores privilegiados dessas duas frentes de inovação, a IA e a biotecnologia. Pela genômica, assistimos as evoluções em tratamentos e métodos diagnósticos, como a Farmacogenética, e ainda estamos no início das descobertas dessa área. Pela IA, temos uma abundância de exemplos na clínica – como no uso de IA para organizar anotações durante a consulta -, na gestão, em diagnóstico, em cirurgia e um potencial imenso de aplicações em várias dimensões.
À medida que buscamos uma medicina mais personalizada e eficiente, aprimorando práticas e ferramentas médicas, agregar os recursos da IA deixa de ser uma possibilidade para se tornar imprescindível, o que não significa deixar de atuar paralelamente na observação e garantia dos valores essenciais da saúde.
O que não podemos negar é a magnitude das alterações que essas revoluções vão operar, redefinindo nosso futuro de modo inevitável. A onda está vindo, cada vez maior, e cabe a nós navegar com ousadia, mas sem perder a necessária cautela.